quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Inacreditável! Juiz disputa eleição para o governo com réu que quase condenou


 
 
O juiz e o réu
Por Cunha Santos*
 
O Maranhão acaba de se tornar palco de um dos fatos mais incríveis da história das eleições neste país. É o enredo mais perfeito para um romance de Dostoievsky ou Franz Kafka. Talvez até eu o escreva. Jamais o juiz poderia imaginar que o homem sentado à sua frente naquele dia, acusado pelo Ministério Público de crime de falsidade ideológica e formação de quadrilha, seria num futuro bem próximo seu principal adversário em uma disputa eleitoral pelo governo do Maranhão.
 
Não me lembro que algo pelo menos parecido já tenha acontecido neste país. Sem receber um único voto, o réu se tornaria senador da República. Sofreria um acidente e, no leito de morte, uma visão de outro mundo, ou de outro submundo, lhe encarregaria de enfrentar o juiz na próxima eleição. Antes, o réu seria condenado por outro juiz a dois anos de prisão e a pena prescreveria, como se forças subterrâneas o protegessem para ser candidato numa eleição que pelo seu partido ninguém queria disputar. O que dá à novela um gosto irresistível de filme de terror.
 
Essa história das mil e uma noites é verdadeira e aconteceu no Maranhão. O juiz, quem sabe, lamenta não ter tido a oportunidade de condenar o réu, talvez porque não houvesse base legal naquele momento, mas ele acabaria condenado. O réu sente com sua candidatura o gosto da vingança contra o juiz que o interrogou. Vilão da história, vê nessa disputa a oportunidade de mostrar que o crime compensa e desafiar a Justiça que tanto o perseguiu.
 
Nesse meio tempo o réu fica rico, torna-se dono de uma emissora de televisão e durante um debate o juiz cala o Estado inteiro ao revelar que conduziu o processo e interrogou seu adversário por formação de quadrilha e falsidade ideológica. Esta é uma cena digna de novela da Globo, mas o debate foi na TV Difusora, de propriedade de Edinho Lobão, candidato e réu com processo no Supremo Tribunal Federal.
 
Fico me perguntando se acaso alguém contasse essa história em outros países democráticos, como o Estados Unidos, por exemplo, alguém acreditaria. E ao mesmo tempo me pergunto:
 
Alguém sabe quem, na verdade, é Edinho Lobão?
 
*Cunha Santos - Jornalista, poeta, escritor.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário