terça-feira, 2 de abril de 2013

Reflexão: A teologia da prosperidade não perde balcão de negócios


Marco Feliciano tira sarro da cara de todo mundo porque pode


De Fátima Oliveira*, no Jornal O Tempo

Quando apareceu a manchete “Pastor homofóbico deve presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara” (27.02), ele declarou: “Se tem alguém que entende o que é direito de minorias e que sofreu na pele o preconceito e a perseguição, é o PSC; o cristianismo foi a religião que mais sofreu até hoje na Terra”; complementou que a Comissão se resumia a defender “privilégios” de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais; e que ele defendia um “maior equilíbrio”.

Falo do deputado Marco Antônio Feliciano – empresário, pastor evangélico, conferencista e sócio-proprietário da Kakeka – Comércio Varejista de Brinquedos, Artigos do Vestuário Ltda., da Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos Ltda. e do Tempo de Avivamento Empreendimentos Ltda. Todos em Orlândia (SP). É também pastor presidente da igreja Assembleia de Deus de Orlândia – Ministério Catedral do Avivamento. Ele também crê na “cura gay”, pois vê a homossexualidade como uma doença e a Aids como um câncer gay. Sobre negros disse: “A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, as pestes, as doenças e as guerras étnicas” (2011).

Lendo as notícias, entendi que tê-lo na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) era da responsabilidade da Câmara. O movimento social nunca teve força política para definir quem preside uma comissão. O pastor recebeu apoios eloquentes do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do deputado Garotinho (PR-RJ).

“A CDHM é uma das 20 comissões permanentes da Câmara dos Deputados, onde atua como órgão técnico constituído por 18 deputados membros e igual número de suplentes, apoiada por um grupo de assessores e servidores administrativos”. A principal atribuição da CDHM, criada em 1995, como uma ressonância da Conferência da ONU sobre Direitos Humanos, em Viena (1993), é “contribuir para a afirmação dos direitos humanos”. Com poder deliberativo desde 2004, cabe a ela a “formulação de propostas e programas governamentais ligados à cidadania e aos direitos humanos”.

A má notícia, de que presidiria a CDHM uma pessoa sem as qualificações necessárias para o cargo, mereceu o seguinte comentário, no Twitter, do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ): “Ele é confessadamente homofóbico e fez declarações racistas sobre africanos. Está claro que o objetivo do PSC, ao escolher a CDHM, deve ser barrar a extensão da cidadania plena às minorias. É lamentável”. Nilmário Miranda (PT-MG), primeiro presidente da CDHM, soube ser magistralmente grande no Twitter, sem dourar a pílula: “Esse é o resultado do presidencialismo de coalizão. Nosso PT optou por outras comissões mais importantes” (7.3.2013).

Sem mais hipocrisias, tratemos do assunto como ele é e merece. Nos marcos da ética da responsabilidade. O governo cometeu um erro monumental ao abrir mão do que sempre foi “a joia da coroa” do petismo: a CDHM; o PT dormiu no ponto; e os partidos da base aliada, idem. Todos têm culpa no cartório. Não escapa um! Tiremos as viseiras da hipocrisia: o PSC jamais reivindicou a presidência da CDHM; ela sobrou para ele, como o patinho feio das comissões!

A dureza é ter de assistir às escaramuças da esquerda, partidos e militantes de movimentos sociais, agora que “Inês é morta”, fazendo de conta que o pastor é um usurpador (o que não é!) ao expor as vísceras partidárias da esquerda e do governo, tirando o maior sarro da cara de todos nós! Erramos, e a teologia da prosperidade não perde balcão de negócios.

*Fátima OliveiraMédica, escritora e feminista - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima


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